Dói, mas a afirmação é verdadeira: “Mais vale um bom Rosso di Montalcino do que um Brunello ruim….” (MONDOVINO – parte III)

Um dia destes li um post muito engraçado do blog Mondovino, que fez considerações acerca de estratégias para que o Rosso di Montalcino se colocasse melhor no mercado, pois o Brunello di Montalcino acaba por sufocar o “primo pobre”. Sem dúvida este fato se dá, entre outros motivos, pelo glamour que envolve o Brunello (afora seus predicados especiais).

No entanto, o ótimo post me fez lembrar uma afirmação que ouvi na Toscana (Montalcino): “Mais vale um bom Rosso di Montalcino do que um Brunello ruim.…”. Na ocasião, chovia muito é “esbarramos” com a propriedade residencial dos donos da vinícola CASA NOVA DI NERI (http://www.casanovadineri.it), que fica metros (não mais que um ou dois quilômetros) da também ótima LA RASINA (http://www.larasina.it/). Ao sermos acolhidos na primeira casa da residência (um pequeno escritório), esta frase foi dita por um dos gerentes da vinícola, que narrava os fatos que envolveram a (péssima) safra 2002. Poucos foram os Brunellos que se salvaram, mas alguns Rossos, feitos com as melhores uvas (nas vinícolas que optaram vetar ou reduzir a produção de Brunellos naquele ano), obtiveram resultados muito bons. Dentre os produtores que tiverem tal zelo, além da CASA NOVA DI NERI, BIONDI SANTI – até mesmo pela sua importância – acabou sendo a referência da opção pelo bom Rosso ao revés do Brunello (provavelmente) ruim que a safra edificaria.

Na boa conversa, regada a várias taças de (excelentes) Brunellos e Rossos, o (já) amigo italiano me disse que o mais importante ao se escolher entre um Rosso e um Brunello (além do bolso, é claro) está na observação da “origem do vinho”, referindo-se ele – obviamente – ao produtor. O conselho – com todas as reservas comerciais que se pode fazer (já que estávamos dentro da casa de produtor de altíssimo gabarito) – vem demonstrando ser um dos melhores que já tive.

Não resta dúvida que para abrir um Brunello di Montalcino (qualquer que seja o produtor) se instala uma pequena cerimônia (um ritual talvez), ao passo que muitas vezes o mesmo procedimento com um Rosso di Montalcino é feito sem o “mesmo respeito” ou sem maiores formalidades. No entanto, não se pode negar que existem excelentes Rosso di Montalcino, invariavelmente resultantes da melhor seleção de uvas (já advinda de terroir diferenciado) e do bom cuidado do produtor na feitura do vinho, ao passo que, em paralelo, há produtores (ou “fabricantes”) que fazem Brunellos di Montalcino, ano a ano (ou melhor, safra a safra), medíocres, com a preocupação única de preencher os requisitos legais da DOCG (Denominação de Origem Controlada e Garantida) que envolve o vinho maior da Toscana. No segundo caso, a ordem é faturar ($$$$) e o produto fica em plano secundário.

Assim, me parece verdadeira a afirmação de que “Mais vale um bom Rosso di Montalcino do que um Brunello ruim….”, sendo os produtores e as safras os principais norteadores da eventual escolha e, não propriamente, o glamour da rotulagem do vinho. Desse modo, em alguns momentos, tenho optado por Rossos aos invés e Brunellos, uma escolha aparentemente não lógica….

A recordação da ótima conversa ocorrida no quintal do Brunello (repito, regada a vinhos em fartura) não ocorreu apenas em razão do post acima descrito (de humor refinado), mas também por força do ótimo ROSSO DI MONTALCINO (CASTELNOVO), safra 2003, produzido pela TENUTA OLIVETO (http://www.tenutaoliveto.it/).

O vinho (cujo rótulo segue abaixo) foi um presente recebido no ano passado da amiga capixaba Denya Pandolfi (residente na Itália) e que recentemente abri em casa para beber com amigos (afinal, vinho – em especial o bom – é para ser compartilhado).

O vinho, após um pouco mais de hora de decanter, simplesmente estava maravilhoso em todos (absolutamente todos) os quesitos. Senti os pés pisando na Toscana no dia em que bebi o vinho. A cor da rolha abaixo sintetiza tudo que disse, pois vinícola conseguiu fazer um vinho de destaque numa safra que, apesar de melhor do que a de 2002, foi bem irregular (há bons, mas também sofríveis, vinhos da safra 2003 em Montalcino).Vale dizer que o produtor não é um dos mais afamados, mas foi possível se notar (tanto nos olhos, como na boca e no nariz) o cuidado com que o vinho foi construído.

Pena que nem todo Rosso di Montalcino é assim…., até porque, para finalizar deixo outra frase (quem sabe para próximo post) “Mais vale um bom Rosso Toscano do que um Rosso di Montalcino ruim…..”

Leia os textos iniciais de nossa série MONDOVINO (vamos refletir um pouco sobre o mundo do vinho?):

PARTE I- Novo e velho mundo na mesa.
PARTE II – O que é um vinho do velho mundo?

20 Comentários

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20 Respostas para “Dói, mas a afirmação é verdadeira: “Mais vale um bom Rosso di Montalcino do que um Brunello ruim….” (MONDOVINO – parte III)

  1. Denya

    Ciao Rodrigo!!!!
    Sono contenta che abbia approvato il Rosso di Montalcino. Adorei este texto, endosso o que disse.
    Estivemos em Montalcino mès passado e tomamos òtimos vinhos… Quando voltar à Toscana, favor avisar.
    Um abraço e parabèns pelo site!

    • Ciao Denya!!!,
      Eu ia procurar seu e-mail hoje para te mandar o post e para conferir seu sobrenome (imaginei que estava errado). Fiquei feliz que vc viu antes e mais feliz pelo momento que me proporcionou….olha rolha do vinho…..estava um coisa do outro mundo… (agradeça ao seu marido, mais uma vez). Um forte abraço para vc e família. Não deixarei de te avisar na próxima ida a Toscana (e saudade…..). Rodrigo

  2. Gustavo Bumachar

    Saudades da Toscana! Vale lembrar a boa vontade em explicar sobre suas produções e a fartura de vinhos oferecidos para degustação pelos italianos da região , merece o retorno para matar a saudade, abraço e parabéns pela matéria!

  3. MAXWEL SALAZAR BOGHI

    Meu amigo, parabens pelo blog, e as informaçoes, estao sendo bem
    aproveitadas. como voce me conheçe e sabe que sou suspeito para
    falar dos brunellos, me permita incluir uma frase minha.
    brunello ruim, se bebi, nao me lembro. hshshshsh

    abraços

    • Caro Max, muito boa a sua frase e, se me permite, vou citá-la em outro post. Mas nem todo mundo bebe bons Brunellos e os respeita como você (e seus confrandes, diga-se de passagem). Além da facilidade (o amigo tem ido com frquencia na Itália), você admira o Brunello pelo vinho, não pelo seu “glamour”. O objetivo do post (que faz parte de outros de uma “série” MONDOVINO) foi de demonstrar que vinho se aprecia pelo conteúdo e não pelo nome e, nessa boa lição, caro Max, você é um professor. Abraços e obrigado pelo ótimo comentário, Rodrigo

  4. Gustavo Bumachar

    Kkkkkkkk , boa Max , concordo plenamente! Aproveito para sugerir uma degustação de Brunello , cada um leva um rotulo diferente , o que vcs acham? Abraço

    • Max e Gustavo, vou fazer um desafio então: vc levam uma garrafa de Brunello 2002 e eu um Rosso di Montalcino de boa safra e de bom produtor para fazermos uma prova. Fechado? Como sei que vc´s só bebem vinhos de ótimos produtores o desfaio vai ser legal. Abraços, Rodrigo

      • Gustavo Bumachar

        Fechado! Já separei a garrafa , vamos combinar nesta próxima semana , abraços

      • Luciano disse que quer participar da “disputa” (falou que tem um Rosso que colocará os Brunellos 2002 no bolso…..). Vamos marcar, tenho certeza que vai ser divertido. Abraços, Rodrigo

  5. Rodrigo,
    Obrigado pela citação e parabéns pelo belo post. Concordo plenamente, aliás vou adicionar mais uma máxima que cabe no assunto: “um bom produtor é aquele que faz bem o seu vinho de base”; isto porque já se espera muito de um vinho top, mas é no básico que se vê quem é quem.
    Grande abraço!

    • Eu que te agradeço pelas risadas que você me propiciou com a ótima matéria. Quanto à máxima lançada por ti (“um bom produtor é aquele que faz bem o seu vinho de base”) ela recebe meu apoio e creio ser um ótimo tema para novo post. Abraços, Rodrigo

  6. MAXWEL SALAZAR BOGHI

    ok Rodrigo, desafio aceito, combina com gustavo o dia e local, pode
    ser aqui na loja, ou outro lugar, voces decidem

    abraços

  7. Roberta Ferrari

    Olá Rodrigo,

    Realmente adorei este post, é muito bom lembrar que os Rossos são bons tanto quanto os Brunellos, e vale a pena conhecê-los.

    Abraços,

    • Cara Roberta, vc que está no comércio de vinhos sabe que há pessoas que bebem o rótulo e não o conteúdo. Há muitos Rossos di Montalcino que o conteúdo é de Brunello e há alguns Brunellos que o conteúdo nem de Rosso é. rsrsrsr. Abraços, Rodrigo

  8. E ai, o desafio ja foi feito, mas e o resultado, como foi….. estou curioso, abracos, Rodrigo Ribeiro

  9. Zana - Vini italiani? Mi piaci, troppo!

    Grandes dias na Toscana! Foi um dos melhores fins de semana da nossa passagem pela Itália. Na próxima vamos incluir as Langhe no percurso, sugiro duas semanas de férias.
    Não deixe de comentar o Poggio Felice (acho que é esse o vinho), que compramos em um supermercado de Roma por 11 euros a botiglia.
    Era um vinho verdadeiramente bom pelo custo benefício, considerando ainda que após ser degustado constatamos ser um genuino tre bichieri do Gambero Rosso.
    Aguardo um post sobre os chianti, onde gostaria que vc referisse ao Machiavelli, que foi bebido com as bençãos do Papa.
    Abraço forte
    Zana

    • Caríssimo Zana, aquele fim de semana em que hospedados, cada um com sua família, em casas dentro do Castelo de Fonterutoli, foi realmente sensacional. Você voltou para Roma e eu ainda fui para Cortona, Montalcino, Montepulciano…. Só de lembrar bate a saudade, que não é só da Toscana, pois em Roma (além assistir as aulas no seu doutorado – oportunidade também inesquecível), pudemos passear pelos supermercados e lojas especializadas, longe do esquema “turista”. Compramos garrafas de Brunello e de Barolo de bons produtores por 12 euros… bebemos vinhos, como bem lembrou, que na sequencia foram premiados com tre bichieri do Gambero Rosso. O Chianti Machiavelli, Riserva, safra 1998, de garrafa numerada, “descoberto” numa padaria (e desgustado em pé) foi – de fato – uma benção do Papa. Quero postar materias desta viagem que foi uma imersão no mundo dos vinhos italianos, pois foi um aprendizado que não vou esquecer e tem tudo a ver com matéria que postei sobre os críticos de vinhos. Valeu pela visita e por proporcionar boas recordações. Abraços, Mazzei

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